Pesquisa caracteriza estrela análoga solar em estado de mínimo de Maunder

28/08/2020 08:54



Estudo conduzido por grupo internacional de astrônomos, liderado por pesquisadores do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE) da UFRN, calculou a atividade magnética e estimativa para o período de rotação de uma estrela semelhante ao Sol, a HD 43587. A pesquisa, publicada na revista Astronomy & Astrophysics, compreende parte da tese de doutorado de Rafael Ferreira, do Programa de Pós Graduação em Física (PPGF) da UFRN, cujos resultados estão baseados na análise de 50 anos de dados coletados.

A pesquisa investigou o comportamento magnético da análoga solar e revelou sua extrema inatividade. Essa estrela foi um dos alvos principais da missão Espacial CoRoT, satélite Francês no qual o Grupo de Estrutura, Evolução Estelar e Exoplanetologia (Ge3) da Universidade do Rio Grande do Norte (UFRN) tem longa lista de contribuições científicas na última década. Entre elas, destaca-se a descoberta, pelos professores José Dias do Nascimento Jr e Jefferson Soares e Matthieu Castro  da gêmea, solar CoRoT Sol 1, em 2009, a primeira gêmea caracterizada a partir de uma missão espacial.

Série temporal de atividade para a análoga solar HD43587

“Para a estrela HD 43587, utilizamos também dados espectroscópicos que permitiram calcular um ciclo de atividade de 10.4 anos, semelhante ao ciclo solar de 11 anos.  Além disso, seu período de rotação foi estimado em 22.6 dias, também compatível com o período de rotação do nosso Sol. Apesar de seu comportamento magnético indicar para um estado típico de um mínimo de Maunder, os resultados não são conclusivos quanto a isso. Devido a sua importância, continuarei monitorando este objeto”, destacou Rafael Ramon Ferreira, primeiro autor do trabalho, orientado pelo professor Matthieu Castro (DFTE/UFRN).

“O resultado da pesquisa revela que este perfil de extrema falta de atividade magnética, e por um longo período, observado nesta estrela a coloca como sendo um objeto ideal para busca de uma Terra 2.0 nos próximos anos”, destaca o astrofísico José Dias, líder do Ge3 da UFRN. Além de Rafael Ferreira, Matthieu Castro e José Dias, assinam o trabalho, recém-publicado, os cientistas Gustavo Guerrero (UFMG), Leandro de Almeida (UFRN) e Patrick Boumier (IAS, França).

Entendendo a pesquisa

Para entender os processos físicos no interior de uma estrela, os astrônomos estudam as propriedades de sua luz. Após correções óticas e computacionais, é possível obter informações sobre sua composição, campo magnético, rotação e até a possibilidade de planetas orbitando em seu redor. A esse estudo dá-se o nome de física estelar.  É assim que os astrofísicos têm revelado, entre outras coisas, o magnetismo estelar, o qual informa sobre as propriedades importantes de estrelas semelhantes ao Sol. Isso impacta até mesmo a busca por novos planetas parecidos com a Terra em outras estrelas.

Entre as propriedades estudadas, destacam-se as manchas solares e estelares. Estas manchas foram o primeiro indicador utilizado para estudar a atividade magnética do Sol, sendo observadas desde o século XVII.  A atividade solar exibe um ciclo periódico de 11 anos. Um dos fenômenos mais intrigante na história solar é o mínimo de Maunder, ocorrido entre 1645 e 1715. Essa foi uma fase em que praticamente não foram observadas manchas solares. Também é reconhecido, historicamente, que essa época coincide com o que foi classificado como “mini Era do gelo”.

O mínimo de Maunder foi o nome dado por John Eddy em artigo publicado em 1976 na Science para caracterizar esse período de 70 anos em que houve uma silenciosa atividade solar. Esse fenômeno acontece quando manchas solares tornam-se muito raras em observações do Sol.

A investigação sobre o quão singular é o nosso Sol tem levado astrônomos em busca de outras estrelas com comportamento magnético similar. Tudo isto também faz parte do esforço científico para encontrar novas terras em sistemas planetários idênticos ao nosso. Dessa forma, o Ge3 da UFRN, utilizando observações astronômicas obtidas desde 1966 em telescópios localizados nos Estados Unidos e na França, conseguiu caracterizar uma estrela que tem as características de um objeto que passa por este mínimo de Maunder.


   
   





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